segunda-feira, 21 de junho de 2010

Jupira


A brisa leve com suas mãos transparentes,
lambe as verdes folhas soltas no ar.
Ao som dos pássaros cantando melodiosa e mansamente
Sucessivamente como canções de ninar.

Arrastam seu pensamento até a linda fonte,
de águas tão límpidas rolando sobre pedras coloridas.
O olhar perdido no horizonte,
Quem sabe há uma jóia nas pedras,escondida?

Para enfeitar o cabelo tão negro e macio,
da linda mocinha de pele morena.
Sentada na relva às margens do rio.
Seu nome Jupira, cabocla serena.

Amiga do vento, do sol e por certo,
da lua que clareia as noites na mata.
Também das estrelas que brilham no céu.

Menina linda, pura e tão calma,
como águas mansas no riacho a rolar.
Traz na verdade dentro de sua alma,
uma grande guerreira disposta a lutar.
Ela é filha querida do Pai Oxalá.

terça-feira, 15 de junho de 2010

OXUM

Conta-nos uma lenda, que Oxum queria muito aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, para tanto, foi procurar Exú.

Exú, muito matreiro, falou à Oxum que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Oxum sobre os domínios de Exú durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo, em troca ele a ensinaria.

E, assim foi feito, durante sete anos Oxum foi aprendendo a arte da adivinhação que Exú lhe ensinará e consequentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Exú. Findando os sete anos, Oxum e Exú, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Oxum resolveu ficar em companhia desse Orixá.

Em um belo dia, Xangô que passava pelas propriedades de Exú, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Oxum.

Foi-se a tal ponto que Xangô, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Oyó. Oxum rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Exú.

Xangô então irritado e contrariado, seqüestrou Oxum e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo. Exú, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência.

Chegando nas terras de Xangô, Exú foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre. Lá estava Oxum, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei.

Exú, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Oxum desvencilhar-se dos domínios de Xangô. Exú, através da magia pode fazer chegar as mãos de sua companheira a tal poção. Oxum tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada, que voou e pode então retornar em companhia de Exú para sua morada.

LENDAS

Logo que todos os Orixás chegaram à terra, organizavam reuniões das quais mulheres não podiam participar. Oxum, revoltada por não poder participar das reuniões e das deliberações, resolve mostrar seu poder e sua importância tornando estéreis todas as mulheres, secando as fontes, tornando assim a terra improdutiva.

Olodumaré foi procurado pelos Orixás que lhe explicaram que tudo ia mal na terra, apesar de tudo que faziam e deliberavam nas reuniões. Olodumaré perguntou a eles se Oxum participava das reuniões, foi quando os Orixás lhe disseram que não. Explicou-lhes então, que sem a presença de Oxum e do seu poder sobre a fecundidade, nada iria dar certo.

Os Orixás convidaram Oxum para participar de seus trabalhos e reuniões, e depois de muita insistência, Oxum resolve aceitar. Imediatamente as mulheres tornaram-se fecundas e todos os empreendimentos e projetos obtiveram resultados positivos. Oxum é chamada Iyalodê (Iyáláòde), título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante entre as mulheres da cidade.


OXUM

Nome de um rio na Nigéria, em Ijexá e Ijebú. Segunda mulher de Xangô, deusa do ouro, riqueza e do amor. A Oxum pertence o ventre da mulher e ao mesmo tempo controla a fecundidade, por isso as crianças lhe pertencem. Dona dos rios e cachoeiras gosta de usar colares, jóias, tudo relacionado à vaidade, perfumes, etc.


O ARQUÉTIPO DE OXUM

As pessoas de Oxum são vaidosas, elegantes, sensuais, adoram perfumes, jóias caras, roupas bonitas, tudo que se relaciona com a beleza. Gostam de chamar a atenção do sexo oposto. São boas donas de casa e companheiras, despertam ciúmes nas mulheres e se envolvem em intrigas.

Oxum é destemida diante das dificuldades enfrentadas pelos seus. Ela usa sua sensualidade para salvar sua comunidade da morte. Dança com seus lenços e o mel, seduzindo Ogum até que ele volte a produzir os instrumentos para a agricultura.

Assim a cidade fica livre da fome e miséria. Oxum enfrenta o perigo quando Olodumare, Deus supremo, ofendido pela rebeldia dos orixás, prende a chuva no orum (Céu), deixando que a seca e a fome se abatam sobre o aiê (a Terra). Transformada em pavão, Oxum voa até o deus maior, para suplicar ajuda.

Mesmo tornando-se abutre pelo calor do sol, que queima-lhe, enegrecendo as penas, ela alcança a casa de Olodumare. Indignada por se perceber excluída da reunião de orixás masculinos, Oxum torna estéreis todas as mulheres até que ela seja convidada para o encontro.

Uma demonstração de que com ela é assim: bateu, levou. Não tolera o que considera injusto e adora uma pirraça. Da beleza à destreza, da fragilidade à força, com toque feminino de bondade, é assim o jeito dessa deusa-heroína. Sensível à condição de fraqueza, Oxum se dispõe a aliviar o sofrimento alheio.

Assim ela o faz quando Oxalá tem seu cajado jogado ao mar e a perna ferida por Iansã. Oxum vem para ajudar o velho, curando-o e recuperando seu pertence. Ela é adorada por Oxalá. A deusa do amor parte com um ebó até Olodumare, para que não haja mais seca na Terra. No caminho ela não hesita em repartir os ingredientes da oferenda com o velho Obatalá e as crianças que encontra, e mesmo assim alcança seu objetivo pela comoção de Olodumare.

Com grande compaixão, Oxum intercede junto a Olodumare para que ele ressuscite Obaluaiê, em troca do doce mel da bela orixá. E ela garante a vida alheia também ao acolher a princesa Ala, grávida, jogada ao rio por seu pai. Oxum cuida da recém-nascida, a querida Oiá.

Com suas jóias, espelhos e roupas finas, Oxum satisfaz seu gosto pelo luxo. Ambiciosa, ela é capaz de geniais estratagemas para conseguir êxito na vida. Vai à frente da casa de Oxalá e lá começa a fazer escândalo, caluniando-o aos berros, até receber dele a fortuna desejada para então calar-se. E assim Oxum torna-se "senhora de tanta riqueza como nenhuma outra Yabá (Orixá femino) jamais o fora".

A vontade de conhecer os segredos do destino faz com que Oxum, esperta que é, coloque seu poder de atração sexual em acordos para esse fim. Ela é especialista no toma-lá-dá-cá. É desse modo que aprende a arte da adivinhação com Exu, e as roupas de Obatalá, e as vestes do "Senhor do Pano Branco" pelo segredo do Ifá.

Assim Oxum se torna senhora do jogo de búzios. Beleza, agilidade e astúcia são ingredientes do sucesso deste orixá. No amor Oxum é ardorosa, de tão formosa e quente que é. Oxum luta para conquistar o amor de Xangô e quando o consegue é capaz de gastar toda sua riqueza para manter seu amado.

Ela livra seu querido Oxósse do perigo e entrega-lhe riqueza e poder para que se torne Alaketu, o rei da cidade de Ketu. Oxum provoca disputa acirrada entre dois irmãos por seu amor: Xangô e Ogum, ambos guerreiros famosos e poderosos, o tipo preferido por ela. Xangô é seu marido, mas independente disso, se um dos dois irmãos não a trata bem, o outro se sente no direito de intervir e conquistá-la.

Afinal Oxum quer ser amada e todos sabem que ela deve ser tratada como uma rainha, ou seja, com roupas finas, jóias e boa comida, tudo a seu gosto. A beleza é o maior trunfo do orixá do amor. Como esposa de Xangô, ao lado de Obá e Oiá, Oxum é a preferida e está sempre atenta para manter-se a mais amada.

Ela adora enganar Obá. Oxum induz Obá a cortar a própria orelha para cozinhar e servir para Xangô, dizendo ser o prato preferido do marido, que na verdade fica enojado e enfurecido. Ela também engana Eleguá que, a serviço de Obá para fazer um sacrifício, corta erradamente o rabo do cavalo de Xangô. Outra vez Obá queria agradar seu marido, mas acaba odiada por ele.

Oxum definitivamente quer o fracasso de quem considera rival. Foi de Oxum a delicada missão dada por Olodumare de religar o orum (o céu) ao aiê (a terra) quando da separação destes pela displicência dos homens. Tamanho foi o aborrecimento dos orixás em não poder mais conviver com os humanos que Oxum veio ao aiê (a terra) prepará-los para receber os deuses em seus corpos.

Juntou as mulheres, banhou-as com ervas, raspou e adornou suas cabeças com pena de ecodidé (pena de um passáro sabrado), enfeitou seus colos com fios de contas coloridas, seus pulsos com idés (pulseiras), enfim as fez belas e prontas para receberem os orixás. E eles vieram. Dançaram e dançaram ao som dos atabaques e xequerês.

Para alegria dos orixás e dos humanos estava inventado o Candomblé. Os mitos da Oxum mostram o quão múltipla é sua personalidade. (Prandi, 1997).



Trecho extraído e adaptado de:
PRANDI, Reginaldo - Mitologia de Orixás,
Mitos afro-americanos reunidos e recontados.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Final da Batalha.


O Guerreiro raramente sabe o resultado de uma batalha quando esta acaba.
O movimento da luta gerou muita energia a sua volta, e existe um momento onde tanto a vitória como a derrota ainda são possíveis. O tempo irá dizer quem venceu ou perdeu; mas ele sabe que, a partir daquele momento, não pode fazer mais nada: o destino daquela luta está nas mãos de Deus.
Nestes momentos, o Guerreiro da Luz não fica preocupado com os resultados. Examina seu coração e pergunta: "Combati o Bom combate?". Se a resposta é positiva, ele descansa. Se a resposta é negativa, ele pega a sua espada e começa a treinar de novo.
Manual do Guerreiro da Luz.
Paulo Coelho.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Eu aprendi...


Eu aprendi...
...que ignorar os fatos não os altera;

Eu aprendi...
...que quando você planeja se nivelar com alguém, apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você;

Eu aprendi...
...que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;

Eu aprendi...
...que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;

Eu aprendi...
...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;

Eu aprendi...
...que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.

Eu aprendi...
...que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar;

Eu aprendi...
...que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito;

Eu aprendi...
...que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a;

Eu aprendi...
...que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.

quinta-feira, 10 de junho de 2010


Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus. Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.

domingo, 6 de junho de 2010

O MÉTODO DO ARREPENDIMENTO


No período da primavera e do outono da história chinesa, durante a dinastia Chou (800-400 aC.), existiam muitos oficiais que tinham a habilidade de prever o futuro de um homem apenas observando suas palavras e seu comportamento. Geralmente o futuro de alguém, seja ele bom ou ruim, inicia-se primeiro em seu coração/mente, e em seguida manifesta-se em seu comportamento. Aquele que parece amável e sincero e seu comportamento é bom, receberá grande fortuna. Entretanto, aquele que transparece crueldade e comporta-se sem considerarão pelos outros. normalmente propicia o aparecimento de sofrimentos. Desta forma, não há mistério nesses acontecimentos. O coração e a mente do ser humano são conectados com o Céu. Quando se está para ter dificuldades, pode-se ver que isso se deveu a um comportamento perverso. Se desejarmos ter felicidades e harmonia, a primeira atitude que devemos tomar é a de ARREPENDIMENTO, mesmo antes de realizarmos boas obras.

Há três modos de arrependimento. O primeiro modo é ter consciência ou vergonha. Quando lembramos de nossos ancestrais, os sábios de tempos remotos, notamos que eles foram também pessoas comuns e seus ensinamentos permaneceram válidos por centenas de anos. Somos apenas interessados em prazeres sensuais, fama e riqueza, além de não possuirmos disciplina em nosso comportamento. Cometemos ações desonrosas pelas costas dos outros pensando que ninguém mais pode vê-Ias. Gradualmente nos tornamos animais trajados em roupas humanas. Este é o comportamento mais vergonhoso.

Mencius disse que o senso de consciência ou de vergonha é a chave para se tornar um santo. Aquele que nada sabe sobre isto é então como um animal. Assim, o primeiro passo no arrependimento é começar a ter consciência, pois é isso que distingue os humanos dos animais.

O segundo modo é possuir respeito. Isto diz respeito a Seres Celestiais e seres de outros planos também; não devemos enganá-los. Mesmo se cometermos pequenos erros, eles saberão. E se cometermos grandes erros sofreremos as punições proporcionais. Até quando estamos num quarto escuro nossos pensamentos são conhecidos pelo Céu. Podemos tentar nos esconder, mas nossos pensamentos não são ocultos e através deles poderemos ser encontrados. Enquanto ainda nos restar um último suspiro podemos nos arrepender, por mais sérios que tenham sido nossos erros prévios. Há muitas pessoas que tiveram uma vida inteira de pecados, mas no momento de desencarnar, de repente, tornam-se cientes de seus erros, arrependem-se e desencarnam em paz. Há um ditado budista que diz: “Tão logo você abandone o facão de açougueiro, já poderá tornar-se um Buda”, isto é. independentemente dos erros cometidos, grandes ou pequenos, o principal é ser capaz de mudar e se arrepender.

O terceiro modo é possuir coragem e determinação. Normalmente, as pessoas não conseguem modificar seus destinos porque não possuem coragem e determinação para deter o comportamento errôneo ou para transformar algo errado. Devemos considerar um pequeno erro como uma pequena lasca de bambu cravado em nossa pele, assim, devemos removê-la rapidamente. E se for um grande erro, deve ser considerado como uma picada de uma cobra venenosa, devendo ser o dedo amputado sem a menor hesitação. Aquele que conseguir seguir os três modos, alcançará o arrependimento tão facilmente quanto o gelo derrete na primavera.

Há três níveis para se alcançar o arrependimento. O primeiro é a mudança do próprio comportamento; o segundo é a compreensão através de uma mudança mental; e o terceiro é a mudança do coração/espírito. Cada nível é praticado diferentemente, com diferentes graus de sucesso. Um exemplo da realização do primeiro nível: alguém que matou no dia prévio promete não matar no dia atual; ou, ao se tornar muito nervoso num dia, promete ser calmo no dia seguinte. Esses são exemplos de mudança de comportamento. Entretanto, aqueles que se mantêm unicamente neste nível obrigam-se a seguir um método muito opressivo, sendo muito difícil alcançar verdadeiramente um completo grau de arrependimento.

Um outro caminho mais apropriado de se arrepender é através da compreensão no nível mental. Por exemplo: se quisermos modificar o hábito de matar devemos pensar sobre como todos os seres vivos valorizam suas vidas. Devemos nos perguntar: como poderemos estar em paz ao matarmos esses seres para nos alimentar? E, além disso, pensar na dor dos animais ao serem feridos com água ou óleo fervente penetrando em sua carne e ossos. O segredo da saúde é balancear nossa energia vital interior e não ser dependente de alimentos substanciosos das montanhas ou dos oceanos, pois após a refeição não há diferenças entre os seus nutrientes e os de simples vegetais. Por que deixar seu estômago tornar-se um cemitério de animais e anular suas caridades? Ao considerarmos que todos os seres com sangue e carne têm vida e sentimento, então o fato de nós não permitirmos que eles sejam livres como crianças brincando junto a nós é realmente vergonhoso. Como podemos feri-los e fazer com que nos odeiem? Se pensássemos sobre tudo isso seriamos incapazes de matá-los para nos saciar.

Para modificar o mau temperamento, o mesmo é válido. Se pensássemos como as pessoas são diferentes, como todas possuem pontos fortes e fracos, seríamos mais tolerantes com o próximo. E quando as outras não realizarem ações que consideramos corretas ou se elas agirem contra os Princípios Universais, elas é que estarão erradas. E isso não terá porque nos incomodar, pois não nos diz respeito. Então por que se zangar? Além do mais, se as coisas não andarem como gostaríamos que elas andassem, na grande maioria das vezes é porque ainda não acumulamos méritos suficientes para isso. Assim, se tivermos isto em mente, mesmo ao sermos caluniados, isso será como o fogo queimando no espaço vazio: logo se extinguirá sozinho. Se ao escutarmos xingamentos e tentarmos nos defender, isso será tão trabalhoso quanto um bicho-da-seda construindo seu casulo. De qualquer forma, matar e ter raiva são ações que mais nos ferem do que nos dão paz.

Há outros erros que podemos modificar de acordo com as mesmas medidas citadas. Se entendermos as razões por trás da necessidade de mudança nós não cometeríamos os mesmos erros novamente. Geralmente, apesar de realizarmos centenas de erros, quando os analisamos percebemos que todos eles provêm do coração/mente. Se a mente não gerar pensamentos que são enraizados no egoísmo, então não cometeremos erros que surgem da ganância. E se nosso coração tende à bondade, então naturalmente não teremos pensamentos perversos. Este é o caminho de arrependimento mais básico: o que ocorre no coração. Todas as falhas vêm da mente, dos pensamentos, e assim, se quisermos remover radicalmente a causa destas falhas, temos que agir como se cavássemos em direção à raiz para cortar a árvore venenosa. Para mudarmos nossa mente, devemos estar atentos em cada pensamento. Logo que um mau pensamento é gerado devemos capturá-lo e eliminá-lo. Este é o melhor método. Todavia, se ainda não formos capazes de realizar este nível, então devemos fazê-lo no nível anterior: o da compreensão. E se ainda não pudermos agir neste nível (o da compreensão), então devemos fazê-lo no nível do comportamento (da ação). Porém, o caminho mais eficaz consiste em combinar a vigilância dos pensamentos com a compreensão. Para aqueles que estiverem determinados a melhorar podem convidar amigos e parentes a lembrá-los constantemente, ou então, suplicar aos Seres Iluminados ajuda nesta mudança para sinceramente se arrepender dia após dia. Assim, após um certo tempo começaremos a obter resultados, sentiremos paz e a sabedoria surgirá.

Também é possível sentirmos algumas das seguintes mudanças:

· Mesmo se estivermos em um meio conturbado, não nos aborreceremos mais;

· Ao virmos um inimigo, em vez de ficarmos zangados, ficaremos sinceramente felizes;

· Quando sonharmos que estamos deixando para trás coisas hostis, ou que anjos vêm para nos saudar, ou que estamos voando no céu, isto são apenas indicações de que resolvemos alguns dos nossos erros do passado, e que já realizamos algum progresso. Contudo, isso ainda não é o motivo para ficarmos satisfeitos e complacentes com nós mesmos.

Pessoas comuns como nós cometem tantos erros quanto os espinhos existentes em um porco-espinho. Quando a nossa mente ainda é muito rude, então mesmo falhando, não enxergamos claramente essas falhas e ainda permanecemos tranqüilos. As pessoas que acumularam muitos deméritos normalmente apresentam certos sintomas:

· suas mentes são obscurecidas e negligentes;

· preocupam-se quando não há razão alguma para se preocupar;

· se sentem incomodadas quando encontram pessoas sábias e santas;

· ficam infelizes quando escutam a verdade;

· algumas vezes quando recebem algo, ao invés de se sentirem gratas, elas ficam insatisfeitas e nervosas;

· em seus sonhos elas sempre têm muitos pesadelos e reclamam o tempo todo.

Essas são as características das pessoas que acumularam deméritos e quando elas se manifestam, deveremos pensar com urgência em percorrer os caminhos do arrependimento.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O MAL!


Às vezes o mal persegue o guerreiro da luz; então, com tranquilidade, ele o convida para sua tenda.
Ele pergunta ao mal:
"Você quer me ferir, ou me usar para ferir os outros?".
O mal finge não ouvir. Diz que conhece as trevas da alma do guerreiro. Toca em feridas não cicatrizadas, e clama vingança.
Lembra que conhece algumas armadilhas e venenos sutis, que o ajudarão a destruir seus inimigos.
O guerreiro da luz escuta. Se o mal se distrai, ele faz com que retorne a conversa, e pede detalhes de todos seus projetos.
Depois de ouvir tudo, levanta-se e vai embora. O mal falou tanto, está tão cansado e tão vazio, que não conseguirá acompanhá-lo.

(Manual do Guerreiro da Luz - Paulo Coelho)